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INSÔNIA por Eleonora L.


São vinte e duas horas. Estou sentada na escrivaninha do meu quarto de frente ao computador. Olho para o teto branco, para os livros e o armário de madeira, bato meus pés no chão e mordo a tampa da caneta. Faz calor e decido ligar o ventilador.  Impaciente, me levanto da cadeira e saio do quarto para pegar um copo de água. Coloco o copo em cima da escrivaninha, olho para minha cama e olho para o computador, penso comigo mesma que é melhor ir dormir. Meu cachorro arranha as unhas na porta do meu quarto, o barulho me dá agonia e eu mando ele parar.  Ele chora para entrar, eu abro a porta. Me viro para o computador e tendo terminar o meu trabalho, meu cachorro tenta lamber o meu rosto. Mando ele sair, ele se deita próximo ao armário, sorrio para ele e volto a olhar o computador. Apago tudo o que tinha escrito. Coloco os fones de ouvido e a música no último volume para ficar mais calma. São vinte e três horas e vinte minutos. Consigo adiantar algo, olho para o meu cachorro e percebo que ele roeu um canto do meu armário, Tiro meu cachorro do quarto, fecho a porta e desligo o computador, apago as luzes e me deito na cama. Sinto dor de cabeça, penso em me levantar e tomar um remédio, mas desisto. Eu durmo. São uma e meia de madrugada. Acordo com minha respiração ofegante e me sinto desconfortável. Escuto o  mesmo barulho de unhas arranhando a porta do meu quarto, provavelmente meu cachorro. Me aproximo da porta, vejo fiapos de madeira atravessando a brecha entre o chão. Dou 3 batidas na porta e falo “vai dormir”. Escuto uma respiração forte do outro lado, bato na porta mais uma vez e repito, “vai dormir”. Ele se afasta da porta e eu volto para minha cama. São duas e meia da madrugada. O mesmo barulho se repete, estou muito cansada para levantar e reclamar outra vez. Coloco um travesseiro sobre a cabeça e volto a dormir. São três e meia da madrugada. Com a visão embaçada de sono, percebo a porta do meu quarto entre aberta e meu cobertor está no chão. Um barulho vem do outro lado do quarto, algo arranhando a madeira acompanhado de uma respiração irregular e abafada. Meu coração acelera, não consigo me mover e tenho medo de olhar. Fecho os olho e rezo para que o que quer que seja vá embora. Inclino minha cabeça e abro meus olhos devagar e direciono meu olhar na procura do que está fazendo tal barulho. Vejo um corpo pequeno, pelagem rala e acobreada e pés deformados, arranhar suas unhas afiadas e pretas na madeira do meu armário. Esse corpo pequeno que não consigo classificar vira o seu  rosto para mim, vejo seus olhos extremamente azuis. Imediatamente fecho os meus olhos e não me movo. Escuto o pisar forte da criatura contra o chão caminhando em minha direção. Ele sobe na cama e rasteja em direção ao meu rosto. O corpo gelado da criatura pesa contra o meu, sinto nojo. As pequenas mãos de unhas longas agarram a minha cabeça, ele aproxima seu rosto ao meu. Sinto seu hálito podre que sopra contra o meu nariz e procura a minha orelha e diz “Eu não consegui dormir”.

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