Pular para o conteúdo principal

Diário do Arthur


Dia 25, domingo.
Querido diário. Hoje o novo namorado da mamãe trouxe presentes. Uma boneca para Beatriz e um carrinho pra mim. Eu tenho cara de quem brinca de carrinho? Eu tenho 11 anos! Ainda sim, não gosto dele. Ele é estranho, tem uma cara assustadora, e Beatriz também acha isso porque demorou pra ela sequer tocar na boneca. Mamãe fez um bolo pra mim hoje. Foi bem pequenininho, por causa das condições, e eu fiquei muito triste porque ela não comeu nem um pedaço. Mas tava uma delícia.

Dia 26, segunda.
A Beatriz não conseguiu dormir ontem, então eu fui lá cantar pra ela. Eu ouvi ela chorando e quando cheguei lá ela estava tremendo de medo. Prometi protegê-la de qualquer coisa que a incomodasse. Enquanto ela dormia, ela falava que ouviu uma voz no quarto falando coisas que ela não entendia. Eu fiquei com medo. Contei pra mamãe mas ela não acreditou em mim. Engraçado, quando eu acordei a boneca não estava mais no quarto. Acho que a mamãe tirou ela de lá.

Dia 27, terça.
Diário, hoje não foi um dia bom. O namorado da mamãe ficou com raiva dela e ela trancou a gente no quarto pra nos proteger dele. A gente chorou enquanto ouvia a mamãe gritar. Eu queria ir lá e fazer alguma coisa, ajudar ela. eu ouvi uma voz dizendo "vá", eu ouvi a maçaneta abrir, então eu peguei uma faca que estava na porta do meu quarto não sei como, fechei os olhos, gritei e corri em direção a ele e senti a faca entrar. A ultima coisa que eu vi foi ele tirando a faca da barriga e indo embora devagar. Por algum motivo, a boneca estava ao lado da porta. Eu não estou acreditando ainda. Não era o que eu queria fazer. Do nada, eu já estava correndo em direção a ele. Meu Deus. Vim pro sótão, para ficar sozinho, mas eu ainda consigo ouvir a voz lá no fundo da minha mente. Eu não vou conseguir dormir essa noite.

Dia 28, quarta
Diário, eu não vou mais poder escrever em você. Eu estou nervoso. O namorado da mamãe voltou hoje e levou ele e a Beatriz e eu vou atrás delas, e vou deixar você aqui. Eu vou proteger a Beatriz, do jeito que eu prometi a ela e a mamãe e vou até o fim do mundo pra cumprir essa promessa. Mas acredito que você, ao contrario de todo mundo, acredite que eu não esteja enlouquecendo, quando eu te conto que a boneca da Beatriz me entregou a faca ensanguentada e disse com a mesma voz que eu estava ouvindo na minha emnte: "mate-o".

Pesadelo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dia dos namorados, por Lucrécia Inverno

A noite, a chuva, o trânsito intenso de automóveis, o barulho de buzinas, vendedores ambulantes correndo entre os carros com doces ou pizzas, letreiros luminosos e outdoors, peças publicitárias freneticamente lançadas sobre a morosidade do deslocamento, tudo isso poderia irritar uma pessoa que sai do trabalho para casa. Mais ainda alguém que precisa chegar rápido para tentar encontrar uma cena de crime intacta, não modificada pela vizinhança, por curiosos ou mesmo pela própria polícia. Mais uma sexta-feira estressante, mais uma sexta-feira normal para o policial civil Roberto Donato. Na Agamenon Magalhães não há trégua, a paciência é fundamental, tanto quanto os cigarros, o som do rádio no programa de notícias locais, ou a inexistente sirene, o ineficiente ITEP, o colete à prova de balas e se aproximar da estação Joanna Bezerra, na comunidade do COC. Ao sair do carro, seus passos apressados faziam oposição à postura cabisbaixa e incrédula dos quatro policiais militares, das deze...

O Vizinho

É inverno, chove sem parar há três dias e Laura finalmente termina de se mudar para o novo apartamento, em um prédio antigo no centro da cidade. Recém saída da casa dos pais, ela não poderia estar mais animada com a perspectiva de independência. Após uma festa de inauguração, ela se despede dos amigos acompanhando-os até o elevador, quando percebe a porta do apartamento vizinho ao seu ser aberta. Laura jurava que aquele apartamento estava desocupado, pois durante as semanas que passou organizando a mudança nunca notou nenhum tipo de movimentação ou barulho que indicasse a presença de uma pessoa ali. No entanto, um homem saía de dentro do aposento. Ele tinha aparência jovial, uma pele pálida como a neve e cabelos mais escuros que a noite, os quais caíam sobre o seu rosto. Ele carregava uma caixa de guitarra e passou apressado por Laura e seus amigos. Ela observava-o com curiosidade, quando seus olhares se encontraram. Dizem que ao olhar nos olhos de uma pessoa é possível enxergar sua ...